A complexa história mais difícil de escrever é a nossa própria,
obscura, inocente ou perversa - bem mais são do que
as narrativas ficcionais.
Brinquei muito tempo com a idéia de dizer "ou" sim "não" a nós mesmos,
aos outros, a vida, aos deuses, como parte essencial dessa escrita de
nosso destino os - com intervalos de Fatalidades naturais
que não se Evitar encontradas, mas Tem de ser enfrentadas.
Acredito em pegar o touro pelos chifres, mas vezes demais
fiquei simplesmente deitada e ele me pisoteou com gosto.
Afinal, a gente é apenas humano.
Nessa difícil nossa história, dizer sim "ao negativo", ao sombrio,
em lugar de dizer sim "ao bom", ao positivo, é o desafio maior.
Pois a questão é saber a hora de pronunciar uma ou outra palavra,
de assumir uma ou outra postura.
O risco de errar pode significar inferno ou paraíso.
Também descobri (ou inventei?) Isso de existir um ponto cego
da perspectiva humana, em que não se enxerga o outro mas apenas
um lado dele: seu olho vazado, sua boca cerrada,
seu coração amargo.
Sua alma árida, ah ... O ponto cego das nossas escolhas vitais
é aquele onde a gente pode sempre dizer "ou" sim "não",
e nossa ambivalência não nos Permite enxergar direito o
que seria melhor na hora: depressa, agora.
O ponto mais cego é onde a gente não sabe quem disse
"não" primeiro. E todos, ou os dois, naquele momento
Deviam ter dito "sim".
Viver é cada dia se repensar: feliz, infeliz, vitorioso,
derrotado, audacioso ou com tanta pena de si mesmo.
Não é preciso inventar algo novo.
Inventar o real, o que já existe, é conquista-lo:
é o dom dos que não acreditam só no Comprovado,
nem se conformam com o rasteiro.
Nosso drama é que às vezes a gente joga fora o certo
e recolhe o errado. Da acomodação Brotam fantasmas
que Tomam Decisões como a si: quando ficamos cegos
não Percebemos isso,
deixamos que e uma oportunidade escape porque tivemos medo
de dizer o difícil "sim".
O "não" também é um ponto cego por onde a gente escorre
para o escuro da resignação.
O ponto mais cego de todos é onde a gente nunca mais
PODERÁ dizer "sim" para si mesmo. E aí tudo se apaga.
Mas com o "sim" como luzes se acendem e tudo faz sentido.
Dizer "sim" a si mesmo pode ser mais difícil do que dizer
"não" a uma pessoa amada: é sair da acomodação, pegar qualquer espada
- que pode ser uma palavra, um gesto,
ou uma transformação radical, e que talvez custe lágrimas sangue
- e sair à luta.
Dizer "sim" para o que o destino nos busque significa acreditar
que a gente merece algo parecido com crescer, iluminar-se,
expandir-se, renovar-se, encontrar-se, e ser feliz.
Isto é: vencer a culpa, sair da sombra e expor-se
a todos os riscos implicados, para finalmente assumir a vida.
Fazer suas escolhas, assinar embaixo, pagar os preços
... e não se lamentar demais.
Porque programamos o próprio destino
que uma vez cada, num tímido murmúrio ou num grande grito,
a gente diz para si mesmo: "Sim!"
Lya Luft
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Dizer "sim", dizer "não"
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